A revista Veja tem medo do jogo da velha. O jogo da velha,
no caso, são as hashtags, antecedidas pelo sinal #, para destacar vozes numa
multidão de internautas – bobagens em alguns casos, mobilizações, em outros.
Para quem diz defender com a própria vida a liberdade de
expressão, é preocupante. Nas 16 páginas desperdiçadas na edição do
fim-de-semana em que tenta se defender, a semanal da editora Abril deixou
claro: para ela, a liberdade de expressão não é um valor absoluto. Tem dono –
ela e o reduzido grupo de meios de comunicação que se auto-qualificam de
“imprensa livre”. Livre de quem? No caso da Veja, certamente eles não tratavam
do bicheiro Carlos Cachoeira, espécie de sócio na elaboração de pautas da
publicação.
Getúlio Vargas valia-se da expressão “aos amigos tudo, aos
inimigos a lei”. A revista, em sua peça de realismo fantástico disfarçada de
“reportagem”, a reformula: “aos amigos tudo (inclusive o direito de caluniar,
manipular e distorcer), aos inimigos a censura. Ou não é isso, ao desferir um
golpe contra as manifestações livres na rede e sugerir uma “governança” na
internet, que os editores do semanário propõem? Eles tem urticária só de ouvir
falar em um debate sobre a regulação dos meios de comunicação. Mas pimenta nos
olhos dos outros…
Na própria peça de defesa, Veja distorce. Não foi a revista
que derrubou Fernando Collor de Melo. É uma mistificação que só a ignorância
permite perpetuar. A famosa entrevista do irmão do ex-presidente não teria
resultado em nada. O que derrubou Collor foi o depoimento do motorista Eriberto
França, personagem descoberto pela rival IstoÉ, na ocasião dirigida por Mino
Carta.
Em termos de desonestidade intelectual, Veja se superou. Ao
misturar aranhas, robôs e comunistas, a semanal de Roberto Civita produziu um
conto de terror B. Nem se vivo fosse o falecido cineasta norte-americano Ed
Wood, famoso por suas produções mambembes, toparia filmar um roteiro parecido.
Além de tudo, a argumentação cheira a mofo, tem o tom dos anos da Guerra Fria.
Quem tem medo de comunistas a esta altura? Nem na China.
PS: a lanterna na capa do semanário mostra outra coisa:
calou fundo na editora o apelido Skuromatic, a lâmpada que provoca a escuridão
ao meio-dia, dado a Roberto Civita por jornalistas da antiga redação de Veja.
fonte: carta capital
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